O mercado brasileiro de franquias é reconhecidamente um dos mais pujantes e importantes no mundo. Desde que a ABF – Associação Brasileira de Franchising começou a coletar dados de desempenho em 2001, sempre apresentou crescimento muito superior ao PIB (como mostra o gráfico).
Ao longo deste período, diversos fatores contribuíram para este desempenho. O boom da economia nos anos 2004 – 2008 foram particularmente importantes para o segmento, colocando por terra teorias como “o mercado de franquias cresce quanto maior o número de desempregados”. Numa época de quase pleno emprego eram batidos recordes de abertura de lojas e de faturamento.
O ritmo de inauguração de empreendimentos comerciais como shopping centers e hipermercados pode explicar, por exemplo, parte da queda deste dinamismo nos últimos anos. O prolongamento da crise econômica adiou diversos projetos o que cria um gargalo para o mercado de franquias.
Há três fatores que podem afetar o futuro deste mercado no futuro próximo:
AUMENTO DA LONGEVIDADE
Diversos aspectos da economia são afetados pelo aumento da longevidade e da vida útil do brasileiro médio. O mercado de franquias é um dos que se beneficia diretamente deste aspecto, pois pessoas maduras são muitas vezes preteridas pelo mercado de trabalho tradicional num momento da vida em que ainda precisam gerar renda.
Este novo público tem maturidade, recursos e energia para tocar seu negócio próprio, mas em sua maioria nunca empreendeu. Franquias quase sempre são a escolha destes “late entrepreneurs” que buscam se manter produtivos além dos 50+.
SISTEMA TRIBUTÁRIO
Nesta balbúrdia tributária em que vivemos, muitas operações de varejo só se viabilizam se estiverem no regime Super Simples de tributação. Neste quadro, um dos fatores que leva empresas a optarem pelo sistema de franquias para sua expansão, é manter suas lojas no Super Simples, quebrando a propriedade da rede entre diversos CNPJs.
Paradoxalmente, franqueados que crescem além de um certo faturamento, são excluídos deste regime, o que, muitas vezes, os leva a abortar este processo.
Assim, a reforma tributária que se aproxima pode representar um impulso para o mercado de franquias ao endereçar em definitivo este “gargalo”.
QUEDA DA REMUNERAÇÃO DAS APLICAÇÕES FINANCEIRAS
Com a queda dos juros e da remuneração dos rentistas, surge um novo investidor no mercado de franquias. Estas pessoas não têm, necessariamente, nenhum sonho de empreender; apenas buscam melhorar a rentabilidade de suas reservas financeiras. Com a expectativa da SELIC a 5% a.a. já no final de 2019, fica fácil para que investimentos na economia real batam qualquer remuneração no mercado financeiro.
Tomemos a SELIC como risk free para análise de um projeto, e talvez mais 2 SELIC como risk premium. Em 2003 isto significaria 69,3% a.a. como taxa de desconto para um valuation; hoje, esta taxa seria de 18% a.a. e ao final de 2019 podemos considerar 15%.
Estas tendências nos levam a crer que o mercado de franquias continuará a crescer a índices bem superiores ao PIB nos próximos anos. Tanto franqueadores quanto franqueados poderão se beneficiar; basta que ambos se preparem para a nova realidade.
UMA PALAVRA AOS FRANQUEADORES
Para atrair estes novos investidores – mais experientes, mais educados, mais capitalizados – o mercado de franquias precisa fazer a lição de casa, e isto começa por:
• repensar a oferta das franquias, com melhoria dos dados e evidências sobre o negócio, qualificação de ponto comercial e estratégia mercadológica;
• educação financeira dos franqueadores, hoje despreparados para discutir com candidatos que não buscam apenas a sobrevivência, mas sim criação de equity;
• revisão de velhos dogmas, como prazos de contrato demasiadamente curtos (5 anos), cláusulas de não concorrência que deixam de fazer sentido num mercado crescente de multifranqueados, entre outros.